Por Ana Belizário, Head de Novos Negócios da Urbem
Uma das perguntas mais frequentes que recebemos é: “como as estruturas de madeira são sustentáveis se para construir prédios precisamos derrubar árvores?”
Neste artigo, vamos explicar por que plantar florestas (e consumi-las) na verdade é uma das melhores estratégias de combate à crise climática. E o Brasil, com sua incrível capacidade agrícola, com solo e clima favoráveis a plantio, pode ser uma grande liderança da Economia Verde.
A atividade conhecida como silvicultura, que é o plantio regular de florestas, geralmente destinadas a um uso comercial específico, surgiu no final do século XVIII na Alemanha e, desde então, tem se desenvolvido em escala global, produzindo florestas de diversas idades, espécies e destinações.
No Brasil, essa atividade se inicia de forma estruturada no final da década de 60, quando o desenvolvimento da indústria brasileira começa a demandar uma grande quantidade de madeira, que era utilizada como fonte de combustível. A introdução da silvicultura nesse período foi uma estratégia de produção de matéria-prima abundante, disponível e controlada, como alternativa à extração de madeira nativa amazônica.
O primeiro conceito importante aqui é que a silvicultura é uma estratégia de acesso à matéria-prima, com o objetivo final de preservar os biomas originais, geralmente mais antigos e complexos, ou de substituir matéria-prima não-renovável por renovável. Por exemplo, quando plantamos florestas para construir prédios, estamos evitando a retirada de pedra e areia do meio ambiente, que não podem ser repostos ou regenerados.
Falando em biomas originais, vale aqui esclarecer quais são as espécies utilizadas para fabricar estruturas de madeira, onde essas florestas estão localizadas geograficamente e qual sua relação com os biomas brasileiros. As espécies mais utilizadas para a fabricação de madeira engenheirada (ou mass timber) no mundo são as coníferas, madeiras de boa resistência estrutural, baixa densidade e crescimento rápido. São madeiras que funcionam particularmente bem nas etapas de fabricação dos elementos estruturais, como por exemplo, os processos de serragem, secagem, cola, acabamento e instalação de conectores.
Aqui, a espécie mais utilizada para fins estruturais é o pinus sp., que é uma espécie exótica, ou seja, foi importada e introduzida em nosso contexto climático, tendo se adaptado muito bem em território nacional, apresentando altíssimas taxas de crescimento. A silvicultura de pinus no Brasil é hoje a mais produtiva do mundo todo e os principais maciços florestais se encontram nos estados do Paraná e Santa Catarina.
Pouca gente sabe que a silvicultura no Brasil é na verdade bastante regulamentada, com diversos programas de certificação por terceira parte, como o FSC, uma metodologia robusta e segura, garantindo que as florestas são plantadas e manejadas de acordo com as melhores práticas.
Uma das estratégias mais importantes de equilíbrio ecológico das florestas plantadas é o manejo combinado, ou seja, nas áreas de plantio de silvicultura, é exigido, pela legislação brasileira, a conservação ou restauro do bioma original relacionado. No caso das florestas de pinus, o bioma associado será, via de regra, a mata atlântica.
Relembrando a nossa complexa rede de biomas brasileiros, a silvicultura de pinus nas regiões sul e sudeste do país, na prática, funciona como uma estratégia de proteção ao desmatamento da floresta Amazônica, uma vez que coloca no mercado volume de madeira o suficiente para atender os diversos usos que a civilização contemporânea demanda.
A silvicultura também evita a extração de minérios, rochas e areia – recursos não-renováveis, que devem ser consumidos de forma estratégica para que estejam sempre disponíveis. O crescimento exponencial das populações e, portanto, das cidades que ainda devemos acompanhar nas próximas décadas nos obriga a pensar em soluções alternativas, que possam se sustentar no longo prazo.
E ainda tem mais. À medida que as árvores crescem, o gás carbônico utilizado na fotossíntese, é retirado da atmosfera e estocado no interior da madeira. Quando produzimos cimento ou aço, precisamos queimar combustíveis fósseis, que liberam altas quantidades de carbono na atmosfera durante o processo produtivo. Ou seja, a silvicultura pode ser vista como uma grande estratégia setorial de mitigação nas emissões de carbono da construção civil.
Por esses motivos expostos acima, podemos dizer que plantar árvores para construir prédios é hoje a estratégia mais eficaz para descarbonizar a indústria da construção civil, ao mesmo tempo em que diminui a pressão por madeira nativa amazônica, geralmente associada ao desmatamento do bioma.
Para finalizar, a silvicultura tem ainda o poder de recuperar áreas degradas (que se esgotaram após uso econômico sem estratégias de preservação ambiental), que no nosso país representam uma enorme porção do território. Apesar de ser uma floresta de uma única espécie, uma floresta plantada também ajuda a recuperar o solo, reestabelecer o lençol freático e aumentar a umidade do ar. Se associadas a áreas destinadas à regeneração de mata atlântica, as florestas plantadas podem ajudar a reverter a degradação ambiental, através de atividades econômicas geradoras de impacto positivo e sustentáveis a longo prazo.