Um arquipélago isolado do continente, repleto de florestas, ameaçado por terremotos e movido por uma relação de respeito com a natureza reuniu as condições necessárias para presentear o mundo com uma das arquiteturas mais marcantes que conhecemos. Estamos falando do Japão, um dos maiores expoentes em construção em madeira e que se tornou símbolo nacional e identidade arquitetônica. A qualidade estrutural foi comprovada diante dos abalos de terra, ameaça constante para os japoneses.
A técnica de encaixes evoluiu e fez com que a tradição ancestral influenciasse uma geração de arquitetos, notabilizados por suas releituras contemporâneas. Nessa leva, podemos destacar o nome de Shigeru Ban, referência obrigatória quando falamos de arquitetura japonesa e madeira. Ganhador do prêmio Pritzker de 2014, o arquiteto é reconhecido por suas iniciativas sustentáveis. No Tamedia Office Building, prédio corporativo de sete andares em Zurique, Ban implantou um sistema estrutural de madeira, com suas vigas, colunas, buchas e conectores no mesmo material — sem a necessidade de recorrer à pregos ou roscas de aço para unir as peças. Em uma montagem que mais parecia um quebra-cabeça, os componentes moldados em CNC foram empilhados, encaixados e mantidos aparentes, trazendo um toque natural e orgânico ao ambiente de trabalho.
Outro expoente dessa geração é Kengo Kuma, que combina a tradição da madeira com seu know-how em modularidade. Seus complexos encaixes em intersecções únicas reforçam sua capacidade inventiva. Em São Paulo, seu projeto para a Japan House traz uma fachada cuja composição em ripas de madeira hinoki parece desafiar a gravidade. Há ainda o Museu Ponte de Madeira Yusuhara, feito pela junção de pequenas peças de madeira conectadas em balanço, e o Estádio Nacional de Tóquio, com uma treliça de madeira contornando todo o seu perímetro.
Já o ganhador do Prêmio Pritzker em 2013 Toyo Ito se inspira nas formas orgânicas da natureza e abusa da tecnologia para criar projetos atemporais. Se destaca a Home-for-all, construção para a comunidade de Tohoku após o terremoto de 2011. Para o futuro, Ito também está envolvido no projeto de um dos maiores prédios de madeira da Ásia – a Nanyang Business School, em Cingapura. Previsto para 2021, o edifício de 6 andares será composto por madeira laminada cruzada (CLT) nas lajes e madeira laminada colada (MLC) nas vigas e pilares.
A lista não poderia seguir sem Tadao Ando, vencedor do Prêmio Pritzker de 1995 e que também possui obras primorosas em madeira. O Museum Of Wood Culture é uma homenagem à floresta Mikata-gun que o envolve, com uma longa passarela que conduz ao pavilhão circular de madeira. Já o Komyo-ji Temple, a reconstrução de um templo budista, traz um conjunto ritmado de ripas de madeira em sua fachada.
A notabilidade mundial alcançada por esses profissionais é apenas um sinal do quanto a madeira é um elemento contemporâneo repleto de possibilidades, sem abrir mão da resiliência nem perder os elos ancestrais e de respeito à natureza.