A cidade de Beaverton, no estado americano do Oregon, leva no nome os castores que habitam a região. E, onde há castores, há muitas árvores, o que fez com que Beaverton fosse apelidada de “cidade das árvores”.
Essa ideia foi o mote do projeto do escritório Hacker Architects para a biblioteca pública municipal, em 2000. A madeira deveria estar aparente na parte interna do projeto, criando espaços abertos e cheios de luz natural. Era preciso também abrigar usos variados, com níveis distintos de ruído, desde um grande auditório, salas de reuniões e áreas dedicadas a crianças e adolescentes até espaços silenciosos voltados à leitura. A biblioteca é também onde acontecem as reuniões comunitárias e as apresentações de grupos de teatro da cidade, trazendo um público mais amplo que o de leitores.
Todo esse programa foi acomodado em 6.500 metros quadrados em que estruturas pré-fabricadas de concreto e madeira garantiram dois pavimentos e a resistência necessária a fortes ventos e eventuais abalos sísmicos. Uma escada emoldurada por madeira com iluminação natural atrai os usuários que partem da integridade sólida do térreo para experimentarem a sensação de quase flutuarem na sala principal de leitura, localizada no segundo nível, ponto focal do edifício.
Dali, dá para ver bem as dezesseis colunas feitas de glulam (ou MLC, madeira lamelada colada, em português) que se elevam a 7,6 metros e se espalham graciosamente à meia altura para suportar a estrutura de telhado de madeira, feita de várias camadas. Sua forma remete às árvores tão típicas da paisagem de Beaverton.
O projeto recebeu reconhecimentos importantes, como AIA Portland Merit Award, AIA Portland People’s Choice Award e AIA Portland Craftsmanship, concedidos pelo Instituto Americano de Arquitetos, além do Wood Design Citation Award.
“É preciso poder ajustar e colocar as coisas onde quiser. Nas bibliotecas mais antigas, a forma do edifício dita como você deve usá-lo”, disse David Keltner, sócio da Hacker Architects, em entrevista à Metropolis Magazine, sobre a maneira como o escritório vem repensando as bibliotecas. Eles também são autores das bibliotecas de Hillsdale, Woodstock e Milwaukie.
“Antigamente, você ia lá, pegava o livro e ia embora. E arquitetonicamente, as bibliotecas eram esses templos – lá para impressionar você com o significado da história e do conhecimento. Eles também eram exclusivos. Hoje, não é um lugar para buscar as coisas, mas um lugar para ir e fazer as coisas. Os materiais tornaram-se mais humildes, mas a arquitetura diz: ‘Estamos aqui para atendê-los’”, afirma Keltner.